domingo, 7 de outubro de 2012

Entrevista com Missionário Gessé Rios


O Reverendo Gessé Rios é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil servindo como missionário da Agência Presbitriana de Missões Transculturais (APMT), atualmente coordenador do projeto C-Step em Cape Town, África do Sul. Formação acadêmica: Especialização em Teologia Pastoral com ênfase em Missiologia pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. Bacharel em Teologia pelo Seminário Prersbiteriano do Norte (SPN -Recife, PE) e Licenciatura Plena em Educação Religiosa pelo Seminário Teológico Evangélico do Nordeste (STEN - Recife, PE).

Qual sua teologia sobre missões?


A pergunta requer um tratado como resposta. Minha Teologia de Missão é focada no Deus da missão, o Deus que comissiona. Em outras palavras, a missão não é nossa é de Deus. Ele é o idealizador e executor da missão. Como na criação, somos Seus parceiros, Seus administradores, na linguagem bíblica, mordomos dos interesses e recursos de Deus. Por isso não podemos limitar a missão à simples definição proselitista "levar alguém a Jesus". Isso é parte da missão mas não encerra a missão. Missão no contexto bíblico é algo bem maior. É o fazer discípulos de Cristo que por sua vez também farão outros discípulos. Implica em expandir o Reino de Deus para todas as esferas da vida visando o resgate de toda a natureza caída, que geme aguardando com expectativa o dia da redenção, conforme nos ensina o apóstolo Paulo (Rm. 8:22-23).

Como você descreve a relação entre:

a)     Missão e o choque Cultural - O choque cultural é resultado da nossa condição caída. A queda nos trouxe limitatções em todas áreas da vida. Assim, perdemos também a capacidade de nos comunicar de maneira plena. Ficamos todos condicionados pelos códigos e valores culturais que nos diferenciam como povos e sociedades. A comunicação intercultural ou transcultural, portanto, se torna prejudicada e, conseqüentemente, nossa habilidade de vivenciar o Reino entre outros povos. Logo, o choque cultural é uma realidade que necessita ser enfrentada, se queremos de fato ser cooperadores de Deus no Seu plano redentivo. 
b)     Missão e Finanças - Nossa compreensão é de que tudo pertence a Deus. Assim como os dons, os bens que recebemos dEle não são nossos. São Seus, e os recebemos para administrar em prol do Seu Reino. Somos apenas mordomos. Logo, nossas finanças devem estar à disposição da proclamação do Seu Reino. Devo dizer que finanças é apenas um componente do qual Deus se serve para a execução da Sua missão.
c)     Missão e Parcerias - Lausanne III Cape Town 2010 pontuou de forma precisa a necessidade da igreja (corpo de Cristo) dar as mãos para que o Reino continue avançando. Para mim, parceria não deve ser vista como mera estratégia na missão, mas como forma pragmática da manifestação de unidade pela qual Jesus orou em João 17. Ela é vital "para que o mundo creia". Missão sem parceria é mero proselitismo sectarista.
d)     Missão e Ação Social - O papel da igreja continua sendo o de testemunhar para o mundo acerca do reino de amor, que resgata o perdido, ensina e corrige o errante, ampara e levanta o caído, alenta o abatido, liberta o preso, cura o ferido... para que seja na terra assim como é no céu. A missão não é ação social, mas não é possível haver missão de Deus no meio dos homens sem que essas facetas da vida sejam tocadas como manifestação do Reino de Cristo presente aqui e agora. A mera ação social o estado ou ONGs podem fazer, mas são incapazes de causar a transformação que somente o Espírito de Deus pode causar. E a Igreja é o agente de Deus nessa ação.
e)     Missão e Igreja Africana - Refiro-me novamente ao Lausanne III Cape Town 2010 que enfatizou o crescimento da igreja africana e sua importância na missiologia contemporânea. Irmãos africanos estão testemunhado do amor de Deus em diversas partes do mundo. Ainda que a maioria não o faça como missionários convencionalmente enviados por uma igreja, são comissionados por Deus a representarem Seu Reino em países onde o testemunho do evangelho outrora floresceu e hoje estagnou ou desapareceu. Muitos deles, chamados migrantes econômicos, por onde andam levam a mensagem da fé até mesmo em países árabes. É importante notar que vivemos uma nova perspectiva missiológica bem colocada Luiz Longuini Neto em seu lovro "O Novo Rosto da Missão", Ed. Ultimato. Ele observa que já não existem mais países enviadores e países recebedores. Todos enviam e todos recebem. Tem sido isso uma estratégia da igreja? Creio que não. Mas é estratégia de Deus Ele está movendo as peças no quebra-cabeça da história dos povos porque é soberano na missão. Se no passado Ele se serviu de uma igreja social e politicamente influente e economicamente rica e poderosa, na presente geração soberanamente decidiu usar sua igreja dos países "sub desenvolvidos" e de países "em desenvolvimento" para testemunhar do Seu reino. Afinal, não escolheu Ele também o fraco e o que nada é para envergonhar o forte...? (I Cor. 1:27).
f)      Missão e Treinamento - Esse tema é de vital importância. Pois conquanto Deus, em Sua soberania, usa o fraco e o que nada é para confundir os fortes, também conclama que utilizemos tudo a nosso dispor para melhor desempenho do testemunho. O "fazer a obra do Senhor relaxadamente" implica em não fazer boa mordomia dos recursos por Ele disponibilizados. Treinamento é chave nesse processo. Muitos erros podem ser evitados com o simples fato de não nos submetermos a um treinamento adequado. Este princípio não se aplica apenas ao treinamento bíblico, aplica-se também, ao treinamento eficaz em qualquer outra área vocacional. Vocação não se limita ao chamado para a pregação da Palavra, mas também ao chamado para a medicina, para a docência, para a administração, para as artes, etc. Na vida do crentes essas vocações ou esses "chamados" são tão santos quanto à vocação ao ministério da Palavra. "Não existe capacidade, indústria ou aptidão que não se deva reconhecer como proveniente de Deus" (João Calvino, Comentário a Mt. 25:15).
g)     Missão e batalha Espiritual - O reino tem um inimigo e precisamos estar cientes dessa realidade todos os dias. Com isso quero dizer que a luta espiritual é uma constante. No ambito da missão é ainda mais intensa. Não há como negar sua infiltração no ato da semeadora. Não há como semear o trigo sem que o joio apareça no meio. Por esta razão, a vigilância em oração deve ser igualmente constante a fim de que não sejamos enganados pelo inimigo do Reino de Deus e seus valores. Esse é seu papel do inimigo de nossas almas - enganar. Portanto, ignorar sua realidade é o mesmo que “baixar a guarda” numa luta de boxe.
h)     Missão e o Movimento Pentecostal e Carismático - Como pensadores de linha reformada, estamos certos da saúde de nossa orientação teológica. No entanto, precisamos ter cuidado para não cairmos no pecado da soberba ou senso de superioridade. Cabe somente a Deus separar o joio do trigo. Não podemos esquecer que Deus, em Sua soberania, usa a quem quer. Isto não quer dizer, porém, que o fato de estar sendo usado/a autentica ministério de quem quer que seja. E nesse sentido, embora não os referendamos por causa de sua teologia equivocada, temos que admitir que movimentos carismáticos ou chamados pentecostais têm sido usados pelo Senhor para manifestar o Seu reino na terra. Uma coisa é ser usado por Deus (Deus usa até pedras), outra coisa é ser aprovado por Deus.
i)        Missão e a Globalização – Vivemos num mundo globalizado, Deus é globalizado. Deus não é limita por nada. Desde o início o propósito salvífico de Deus é O MUNDO TODO. IAWEH não é um Deus local, nacional, etc. É Deus de todos os povos e seu reino é para todas as etnias, todas as línguas, todos os povos. Creio que é o suficiente para ilustrar a natureza global da missão de Deus.

Qual sua estratégia em Missões?

Minha estratégia é: "fazer-me de tudo para com todos com o fim de alcançar alguns", sem jamais me envergonhar do evangelho, tendo em vista que "é poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê". 

Qual a sua visão sobre Missionários de curto termo e fazedores de tenda?

Quanto à "missão de curto termo" entendo ser uma estratégia cada vez mais importante num mundo onde tudo é muito rápido. Ela é importante a fim de maximizar a proclamação. Em relação ao "fazedor de tendas" sua longa história de eficácia, encabeçada pelo apóstolo Paulo, nos diz tudo. Nos dias de hoje, num mundo dirigido pelo mercado, tal estratégia vem se tornando ainda mais importante e até mesmo necessária para a eficaz manifestação do Reino em certos contextos. Profissionais dos mais diversos ramos da atividade humana são bem-vindos. Hoje há uma procura cada vez maior por empresários, gente do mundo dos negócios, que possam contribuir com a geração de emprogo e o desenvolvimento humana. É a hora e a vez de empresários cristãos comprometidos com a missão proclamadora dedicarem sua vida e habilidades para manifestar o Reino de Deus por meio de sua vida e ações, em contextos onde um "missionário de carreira" não pode entrar.

Que o Senhor lhe aqueça o coração e lhe aumente a visão!

Fonte: http://www.c-step.blogspot.com/

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